sexta-feira, 15 de abril de 2016

Como um jogo de futebol explica minha posição política

Primeiro, gostaria de pedir para aqueles que divergem da minha opinião que a respeitem e tragam o contraponto na leveza de um debate sadio, em que o diálogo coerente possa transitar sem percalços violentos. Afinal, isso é só minha opinião, nada mais.

O ano era 2009 e o Grêmio me irritava muito. Era insuportável. Até aquele último jogo, em dezembro, o Tricolor vencera apenas uma partida fora de casa, contra o Náutico, e amargava pilhas de derrotas na casa dos adversários. Irritante não pelas derrotas em si, mas porque em casa o time tinha um desempenho muito superior a qualquer equipe. Estava invicto desde 2008 no Olímpico, e assim o permaneceu até 2010. Poderíamos ter ido mais longe e isso enfadava muito.

Mas o 8º lugar era nosso destino naquele ano e esse mesmo destino nos brindou com uma situação inusitada e constrangedora para a última rodada do campeonato. O jogo era contra o Flamengo, líder, no Maracanã. O segundo colocado era o Inter, e este dependia de uma vitória do arquirrival, nós, o Grêmio, para ser campeão.

O Flamengo tinha 64 pontos; o Inter, 62. Com uma vitória do Grêmio sobre os cariocas e uma vitória colorada frente ao já rebaixado Santo André, no Beira-Rio, a taça ficaria com os gaúchos vermelhos. Não havia dúvidas pra mim, torceria contra meu próprio time, pois amar um clube também significa odiar o rival e eu não iria aceitar entregar uma taça ao Inter apenas pra poder dizer que meu time venceu um jogo.

Mais que isso, uma vitória do Grêmio àquele ponto não faria diferença. E considerando que havíamos vencido apenas uma partida fora de casa o ano inteiro, eu aceitaria facilmente aquela derrota. Ganhar aquele jogo seria um tapa na cara do torcedor gremista.

Porém, nem todos compactuavam com minha posição. Alguns me diziam: “Vamos ganhar e o Inter vai perder, aí o Flamengo é campeão e nós não precisamos torcer contra o Grêmio”. Eu dizia que a pessoa era louca, estava delirando num mundo de imaginações. Era uma ideia utópica que nunca se concretizaria. O Inter não perderia, como não perdeu, enfiando 4 a 1 no Santo André. Não podíamos brincar com a sorte, tínhamos que ter coerência.

E o Grêmio ouviu a grande maioria de sua torcida e mandou a campo um time reserva, alagado de juniores. Se fosse o titular talvez perderíamos com mais facilidade. Quando Roberson abriu o placar para o Grêmio, aquele golpe era duro demais pra mim. Mas o Flamengo virou e foi campeão – e eu respirei aliviado. Na volta pra casa, pasmem, a torcida tentou agredir os jogadores gremistas por jogarem tão bem.

Mas o que isso tem a ver com a política brasileira? Tudo. Meu posicionamento, e é o que mantenho há um ano, desde que toda instabilidade no Brasil se agravou, é contra o impeachment de Dilma. Não que eu esteja satisfeito com Governo, não que eu concorde com escândalos de corrupção – que afeta mais o legislativo que o executivo - ou até mesmo que minimize a questão das pedalas fiscais. Meu posicionamento é esse porque o processo parece mais forjado que, digamos, ao natural.

Se todo esse turbilhão que engole o Brasil desde o fim das eleições de 2014 não existisse, talvez hoje eu ergueria minha voz contra a presidente e, também talvez, pedisse seu impedimento – e, novamente talvez, estivesse errado e contradizendo o que eu penso agora. Mas são suposições. Minha posição hoje é contra o impeachment, mesmo acreditando que uma mudança no poder fizesse bem ao país – mas não nos moldes como está sendo conduzido.

Alguns me dizem, como aqueles torcedores nos dias que antecederam o jogo contra o Flamengo diziam, que a Dilma cairá e, logo após, Temer, Cunha e Calheiros também cairão. É a mesma utopia de torcedor. Não irá acontecer, assim como eu sabia que uma vitória colorada frente ao Santo André era inevitável.

Então, quando em 2009 eu torci contra meu próprio time para que algo pior que uma derrota ocorresse, hoje eu me mantenho contra o impeachment de Dilma, por acreditar, quase com certeza absoluta, que o que virá será pior – não apenas nos nomes que irão domar o país adiante, mas por aspectos ideológicos nefastos. Tiraremos uma presidente sem traquejo político e, até então, limpa em questões de corrupção, para colocar réus dos mais diversos crimes com uma capacidade administrativa melhor - sob a alegação de "combate à corrupção". Isso, pra mim, não faz muito sentido.

Infelizmente, para todos nós, brasileiros, aqui metaforicamente representados pela torcida gremista, o futuro não parece trazer notícias boas, não importa o que aconteça. Ou é uma derrota ou é o título do rival. Até lá, mantenho-me do lado que acredito ser o menos pior.